centro avançado de formação pós-graduada

escola, reabilitação, portugal

O conjunto de edifícios onde a Câmara de Guimarães agora construiu o Centro Avançado de Formação Pós-Graduada para a Universidade do Minho, situa-se na Zona de Couros, e relaciona-se com a restante área de Couros pelo conjunto de pequenas ruelas e caminhos que, acompanhando o Ribeiro, constituem a estrutura viária da zona.

A imagem da Zona de Couros é marcada por edifícios abandonados ou transformados mas também de memórias, às vezes imaginárias e subjectivas, que os habitantes da cidade foram elaborando a partir dos fragmentos que chegaram até hoje. Desses fragmentos importa reter os tanques de tratamento dos couros que existem um pouco por toda a área, as construções e as estruturas em madeira e naturalmente o Ribeiro de Couros que foi a razão de ser da instalação desta actividade (o tratamento de couros) nesta Zona.

 

Importou desde logo ao projecto a localização do edifício na Zona de Couros, que sabendo-se adjacente do núcleo muralhado do centro histórico de Guimarães, sofreu relativamente ao restante tecido urbano alguma segregação, mas sedimentou um conjunto rico e autónomo de soluções edilícias e construtivas traduzidas em edifícios industriais que no seu conjunto tem inegável interesse arquitectónico, e que desde logo forneceram alguns temas para reflexão e desenvolvimento.

Um desses conjuntos são os edifícios que eram ocupados pela antiga Fábrica Freitas e Fernandes. Não estamos a referenciar um edifício unitário mas um conjunto dispare de edificações, dispostas à volta de um grande pátio, que em boa medida dão testemunho dos sucessivos acontecimentos que enformaram a zona de Couros tal como a conhecemos hoje.

Parte desses edifícios são agora reabilitados com a instalação do CAFPG.

O conjunto de edifícios afectos ao CAFPG da UM, situam-se a poente do grande pátio interior, sendo aqueles que por terem sido sucessivamente adaptado às necessidades produtivas da indústria têxtil se apresentavam em mais desigual no estado de conservação. Na área agora ocupada pelo CAFPG os edifícios apresentavam-se muito transformados e alterados quer construtivamente (com a introdução de estruturas em betão armado e paredes em tijolo), quer espacialmente (com a introdução de novos pisos e acessos), o que tornava virtualmente impossível a apreensão qual o seu estado original.

O programa escolhido para este conjunto de edifícios e que o projecto materializou pode ser resumido singelamente como um edifício escolar destinado à Universidade do Minho onde se concentrarão algumas áreas de formação ao nível do mestrado e do doutoramento e distingue se dos outros edifícios da mesma instituição por se destinar exclusivamente a graus onde a investigação e os respectivos espaços dedicados ocupam lugar primordial, mas também por se localizar fora do campus e no centro da cidade.

O edifício desenvolve-se em dois pisos reservando-se ainda o desvão dos telhados para a utilização como áreas técnicas. O rés do chão alberga sobretudo as áreas de estar num pé-direito duplo, as áreas pedagógicas (salas de aula) e a área administrativa. No primeiro piso localizam-se os gabinetes, os laboratórios e as salas de actividades mas também a biblioteca que relacionando-se com as áreas sociais procura uma localização mais reservada e adequada à sua função. Os espaços de circulação têm uma geometria irregular para darem espaço aos chamados “living lab’s” e estes serão, antes de mais, áreas de representação dos projectos académicos em curso.

Os edifícios e o programa que deveriam acolher colocaram um dilema na elaboração do projecto porque nos pôs, primeiro, perante a realidade de um edifício muito descaracterizado e pouco aliciante, e logo depois, perante a expectativa existente na sua recuperação e reabilitação. À pergunta sobre qual seria a atitude adequada face às expectativas de recuperação do edificado respondeu-se com uma proposta de grande flexibilidade nas opções do projecto. Ao contrário de uma intervenção rígida de abordagem e concretização, apostou-se em respostas pragmáticas e circunstanciadas para cada uma das equações e problemas que o projecto enfrentou. Face ao desconhecimento de uma realidade (o edifício original) tudo teria que passar pela sua reinvenção usando imagens esquemáticas e portanto depuradas dos seus conteúdos concretos.

Assim, e genericamente, no projecto propôs-se a demolição de todas as áreas onde se adivinharam a substituição das soluções construtivas originais por paredes em tijolo e a demolição integral das estruturas existentes em betão armado. Paradoxalmente propõe também como principio fundamental a manutenção da volumetria entendida como repositório essencial da memória do edificado existente. Este será o paradoxo do projecto, a reinvenção do edifício mantendo inalterada a sua volumetria, usando para sua definição exterior aquilo que é caracterizador da zona de Couros, os revestimentos em madeira e em granito, ou ainda o recurso a sistemas de construção ligeira para a definição das envolventes quando propõe o acabamento em cobre de uma parte significativa do edificado. Simultaneamente propõe-se a reconstrução integral dos interiores com recurso a materiais e linguagens contemporâneas com o intuito de acomodar e responder às exigências de conforto impostas pelos regulamentos vigentes.

O projecto de arranjos exteriores foi limitado ao pequeno pátio interior formado pelos edifícios objecto de intervenção e propôs para além do dominante lajeado em granito que marca percurso e acessos, a introdução pontual de pequenas áreas verdes e de um paver em tijolo maciço que assegurasse a intimidade destes espaços num desenho mínimo que reforçasse a presença da chaminé industrial em tijolo.

localização
Guimarães, Portugal

data
2009-2013

área
3450m2

colaboradores
Marlene Sousa
Mariana Paiva
Carla Guimarães
João Andias Carvalho
Francisco Oliveira
Hélio Pinto Alves

fotografia
José Campos Photography